Operação Overlord
Muitos filmes de guerra têm como tema a Segunda Guerra Mundial por se tratar de um período rico em feitos heroicos, grandes batalhas, histórias edificantes e também com uma definição bem clara de luta do “bem contra o mal”, neste caso, dos aliados contra o eixo.
Com Operação Overlord não é diferente. Porém, o longa resolve abordar os mistérios envolvendo as supostas experiências dos nazistas com o ocultismo e a ciência. O resultado é um filme completamente diferente, que mistura drama de guerra, suspense e terror.
Mas, é bom? Para responder essa questão, temos que avaliar a obra em três partes: a primeira delas, como um filme de guerra.
“Meeeeeedic!!!”
Logo no começo da projeção, somos apresentados sem muita enrolação a um pelotão que está sendo transportado de avião até um vilarejo no interior da França dominada pelos nazistas, para cumprir a missão secreta de destruir uma torre de rádio. O objetivo é impedir que os alemães solicitem reforço aéreo na batalha do Dia D, nas praias da Normandia, que ocorrerá no dia seguinte. Aliás, uma curiosidade: esta manobra de guerra realmente ocorreu e foi batizada de Operação Overlord. Daí o título do longa.
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O começo do filme é primoroso! |
Claro que não demora muito para que esse avião comece a ser bombardeado pela artilharia antiaérea dos alemães. E desta forma o filme já começa a mil por hora, numa sequência de ação desesperadora, com direito a muito sangue, gore, tiros e explosões que não devem nada ao clássico “O Resgate do Soldado Ryan”. Isso sem falar de um maravilhoso e asfixiante plano-sequência.
Toda a primeira parte do filme carrega os elementos que você espera de um bom filme de guerra, com tensão e imprevisibilidade. E a direção habilidosa nos passa a sensação desesperadora desses jovens soldados que são jogados em um cenário extremamente hostil, precisando lidar com seus medos e, ao mesmo tempo, cumprir uma missão praticamente impossível, da qual dependem as vidas de milhares de outros colegas. Até aí, tudo bem. O filme é muito bem amarrado e executado, envolvendo rapidamente o espectador.
Um belo suspense
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O suspense também é muito bem executado. |
O roteiro acerta em cheio ao desacelerar e tomar o seu próprio tempo para conhecermos melhor os personagens enquanto incita alguns questionamentos no espectador, gerando aquele pressentimento de que tem alguma coisa estranha acontecendo ali. Novamente, outro acerto.
Mas o que?!
Por fim, quando o grande mistério é revelado, entramos no terceiro ato e o filme abraça totalmente o terror. É justamente neste momento, quando eu achei que ele iria brilhar de forma magistral, que fiquei frustrado. A razão disso é que, se você vai fazer um filme de terror que se passa na Segunda Guerra Mundial (uma época já naturalmente assustadora), então tem que fazer valer essa premissa. Ainda mais se começa sua obra de um jeito tão brilhantemente real e impactante, como aqui. Afinal, é a chance que o roteiro tem de te surpreender ao mostrar que a situação que os mocinhos terão de enfrentar é ainda pior e mais aterradora do que “somente” os horrores da guerra, que você imaginava anteriormente.
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Não se engane pela imagem. Essa é a única cena assustadora de todo o terceito ato. |
Mas infelizmente não é isso que ocorre em Overlord. Todo aquele impacto inicial é deixado de lado. O gore, que poderia jorrar no terceiro ato, uma vez que o filme toma rumos sobrenaturais e fantásticos, é quase completamente abandonado. O mistério assustador, nem é tão assustador assim. O desafio impossível, no fim também nem é tão difícil assim. E o grande problema que eles têm que enfrentar, acaba se tornando até mesmo uma solução, por conveniência do roteiro. Tudo bem que o medo é relativo e o que me assusta, pode não assustar você, caro leitor. Também não quero dar spoilers e estragar a experiência. Mas, poxa vida. Tinha tanto potencial...
E eu fiquei me perguntando: onde raios foi parar toda aquela ousadia e maestria dos primeiros dois atos do filme?! No fim, fiquei com aquela sensação de que os elementos de terror prejudicaram a obra, ao invés de torna-la ainda melhor e mais interessante. Algo alcançado com sucesso em outras produções que também transitam entre gêneros distintos, como a estreia do diretor Neil Marshall, “Cães de Caça” (Dog Soldiers, de 2002) e o MARAVILHOSO faroeste de terror “Rastro de Maldade” (Bone Tomahawk, de 2015). Este segundo, inclusive, acho que está no catálogo da Netflix.
Enfim, mesmo com o terceiro ato tão falho, Operação Overlord ainda é um filme que precisa ser assistido no cinema. Seja pela inovação e coragem ao misturar gêneros distintos ou pelo capricho da produção. Se você vai curtir ou não, aí já é outro assunto.
Nota 3/5 - Bom
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