A Bruxa de Blair (2016)
Você certamente já ouviu falar do fenômeno que se tornou o filme "A Bruxa de Blair", de 1999. Na época, o longa que mostrava um grupo de jovens entrando em uma floresta teoricamente amaldiçoada por uma bruxa ancestral, foi o responsável por uma das maiores revoluções do terror nas últimas décadas.
Além de popularizar o gênero de found footage, o projeto também assustou muita gente que após a exibição, ficava em dúvida se estava diante de uma obra de ficção ou um vídeo real, o que deixava tudo ainda mais apavorante. E a época que ele foi lançado, com o início da internet, e a dificuldade para ter acesso a informações, só contribuiu para seu sucesso. Um caso exemplar ao aliar uma primorosa campanha de marketing a uma ideia inovadora.
Agora, 15 anos depois, o cenário do mundo já é outro completamente diferente. Estamos na era digital, as informações voam na velocidade da luz, estão ao alcance dos nossos dedos e o gênero found footage, que já viveu seus anos de glória, está aparentemente respirando com a ajuda de aparelhos.
Neste cenário, o longa "A Bruxa de Blair (2016)" tem a ingrata - e praticamente impossível - missão de manter o alto padrão de seu original. Depois de assistir o longa, fica evidente que essa missão não só não foi cumprida com sucesso, como também é colocada em cheque a necessidade de uma continuação.
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Esqueça o suspense intimista do original de 1999. Aqui o foco é na gritaria e nos jump scares... |
A impressão que fica é de que o filme foi desenvolvido para o público de terror atual, que está mais interessado em dar pulos na poltrona, do que em ver uma obra verdadeiramente assustadora. Até aí, ok. Já que alguns públicos realmente têm essa preferência. Mas quando um filme carrega o mesmo nome de um marco no cinema de terror, inevitavelmente as expectativas crescem. Dessa forma, a decisão de fazer uma continuação acaba parecendo muito mais o fruto de uma forma de ganhar dinheiro fácil com os fãs do original, do que de contar uma história que valha a pena ser contada.
Na trama, James, o irmão caçula da protagonista do filme original, decide voltar com alguns amigos à floresta para encontrar sua irmã que ele acredita ainda estar viva (porque afinal, precisamos de algum pretexto para mais um filme, certo?). E este enredo serve de propósito para vermos uma costura de repetição dos acontecimentos do filme original, só que com sustos menos elaborados, personagens mais rasos e mais ângulos de câmera. Ou seja, apesar de se intitular uma continuação e não um remake, no fundo estamos diante de (pasmem!) um remake.
Todos os elementos de suspense intimista, os acontecimentos assustadores dentro da floresta e os momentos de silêncio e tensão diante do medo do desconhecido, presentes no longa de 1999, são completamente abandonados neste filme, que resolve trocá-los por cenas de gritaria, correria e sustos manipulados com o áudio subindo de repente. Os famosos jump scares. Um truque barato que não se traduz em um filme assustador. Certa vez ouvi que jump scare é o equivalente a você estar assistindo a um filme de comédia e o ator saltar da tela para te fazer cócegas na poltrona. Você vai rir, mas isso não significa que o ator seja bom ou o filme seja engraçado. Você só foi manipulado e trapaceado para rir (ou se assustar, neste caso).
Por fim, para se distanciar ainda mais do longa original, o "remake" toma a decisão de destruir de vez o maior ícone do filme. Como? Revelando-o para o público. O maior acerto do filme de 1999 foi justamente não mostrar a bruxa. Pois no fundo, nada será tão assustador e íntimo para o espectador, quanto a sua própria imaginação. Mas aqui, parece que os roteiristas imaginaram que o público não conseguiria lidar com a "frustração" de mais um filme sem ver a bruxa do título e resolveram revelá-la. O resultado (adivinhem): frustrante.
A maior lição a ser aprendida neste "A Bruxa de Blair (2016)" é de que há coisas que não valem a pena ser vistas ou reveladas. Apenas deixadas na imaginação. Assim como na mitologia do filme, fica a dica: é melhor ficar de pé olhando pra parede, ser forte e resistir à tentação de assistir a esse filme. Se você fraquejar e olhar para ele, certamente vai se arrepender. Pois o que foi visto, jamais será desvisto...
Nota: 2/5 - Ruim!
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