Eu, Tonya


A história de vida da patinadora norte-americana Tonya Harding é recheada de drama, reviravoltas, abusos, sofrimento, superação, com pitadas de ironia, humor involuntário, além de doses cavalares de escândalos públicos e total ausência de amor. Sabe aquela história controversa que daria um bom filme? Então, realmente neste caso deu.

A trama biográfica do longa "Eu, Tonya" conta a história daquela que já foi considerada como a melhor patinadora artística do mundo e a primeira a conseguir realizar o, na época, complexo salto triplo axel (aquele em que a competidora dá três voltas no próprio eixo, no ar, durante o salto) em uma competição internacional.

A atuação visceral de Margot Robbie cimenta seu nome
no hall de grandes atrizes da nova safra de Hollywood.
O design de produção do filme, assim como a maquiagem, os figurinos e a trilha sonora, estão impecáveis e transportam o espectador diretamente para as décadas de 80 e 90, nas quais a trama se desenrola. O elenco também trabalha com competência para contar a controversa história da patinadora. Com destaque para o trio principal composto por Sebastian Stan (que interpreta o ex-marido violento, Jeff Gillooly), a ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel, Allison Janney (que dá vida à amargurada, perfeccionista e abusiva mãe, LaVona Golden) e Margot Robbie, intérprete da protagonista, que entrega um trabalho digno de sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz e cimenta definitivamente seu nome no hall de grandes atrizes da nova safra de Hollywood.

O roteiro do filme é construído no formato de "falso documentário", com depoimentos dos principais envolvidos na vida de Tonya. Este é um acerto narrativo, pois considerando a enorme carga dramática da história da protagonista, o mais provável seria optar por um direcionamento mais depressivo e vitimista. Mas, ao invés disso, o roteiro ousa trilhar um caminho mais irônico, recheado de humor negro e quebra da quarta parede, que conferem um ar mais digno, original e até mesmo involuntariamente (ou não) cômico, diante do absurdo, das tragédias e dos escândalos da vida da patinadora. 

Não é a toa que a atriz Margot Robbie decidiu contar essa história, lutou tanto pelo projeto e até mesmo criou uma produtora para ajudar a promover esse filme. Com os recentes escândalos sexuais em Hollywood vindo à tona, o timing da produção é perfeito, tal qual o axel triplo de Tonya. E muitos assuntos pertinentes e atuais são abordados pelo roteiro, tais como o abuso físico e moral a que muitas mulheres, sendo figuras públicas ou não, são submetidas diariamente. E a forma caricata, pueril e rasa com que a imprensa costuma rotular essas mulheres. Logo, a obra busca humanizar Tonya Harding ao contar sua história de forma crua e verdadeira. Só assim, o espectador consegue enxergar a pessoa por trás da notícia. O ser humano, com falhas e acertos, por trás da manchete sensacionalista. A verdade de Tonya. 

Por fim, trata-se de um filme imperdível e brutalmente honesto em sua premissa. Uma obra biográfica ousada que foge do convencional ao equilibrar com maestria prismas tão distintos, como o trágico e a comédia do absurdo. Não é coincidência, portanto, que um ótimo filme, assim como uma ótima patinadora artística, compartilhem das mesmas qualidades primordiais: a ousadia e o equilíbrio.

Nota: 5/5 - Excelente!

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